Reposicionando a Bateria


Reposicionando a Bateria

Você já viu um baterista tocando um kit exótico e achou esquisito? Ou pelo menos ficou interessado no que ele iria tocar e como iria usar o estranho arranjo de objetos na frente dele, mas se sentiu relutante em tentar montar um kit exótico do mesmo jeito? Vamos falar aqui o que é chamado de “norma de comportamento”, e ela anda de mãos dadas com a falsa ideia de que o que é “normal” é bom e qualquer coisa “diferente” é ruim. Vemos um kit de cinco peças padrão e consideramos aquilo normal, ou típico, porque estamos acostumados, ou porque nos disseram que uma bateria deve ter aquela aparência; se, em seguida, olhamos um kit lateral como o de Bill Bruford (King Crimson, Earthworks, Yes), isso pode parecer estranho.
                                                                                               Bill Bruford
Mas Bill Bruford não tem que justificar seu set up mais que ninguém. Existe alguma proibição para você configurar sua bateria da maneira que quiser? Mudar o set up é garantia de tornar a bateria musicalmente irrelevante ou pior? A resposta a ambas as perguntas é “não”.
Uma vez que os sets de bateria e os pratos são comercializados para nós, quase todos eles, com muito poucas exceções, seguem um modelo padrão. Vamos admitir, isso facilita lidar com o material educacional, tanto para os professores quanto para os alunos, uma vez que partituras e exercícios podem ser escritos com uma notação mais ou menos padronizada. Mas pense em qualquer outra boa razão para seguir uma padronização em termos de como seu kit é montado. Ah, é mais fácil para outras pessoas usarem seu kit? Eles provavelmente vão querer mudar a posição de seus toms e pratos ou a tensão da mola dos pedais ou a altura do chimbau ou no mínimo vão querer mudar a posição do banquinho e da caixa. Na realidade não há uma razão. Se você olhar para trás para a história da bateria, a “produção em série” é a única razão para termos uma definição de “configuração normal”. Alguns dos pioneiros do instrumento como Baby Dodds usavam seus “trap sets” muito diferentes do que estamos acostumados. Não havia tambores no chão, e havia todos os demais instrumentos sobre um bumbo relativamente grande (e Baby Dodds não gostava e não usava o chimbau).

                                                                                  Warren "Baby" Dodds
Então, quando a bateria deixou de ser o “trap set”, que era a junção de vários instrumentos de percussão, e começou a se tornar o “kit de bateria” que podia ser comprado numa loja ou por um catálogo, as coisas começaram a mudar. A bateria se tornou, literalmente, um “kit” (e ainda é, na maioria dos casos) e pode ser adquirida e montada de uma determinada maneira. É como uma receita, que usa praticamente os mesmos ingredientes, mas é feita por cozinheiros diferentes (nessa comparação, as empresas fabricantes) para criar o mesmo prato. Mas quem disse que você não pode ter os mesmos ingredientes, mudar a receita ou deixar parte deles de fora e acabar com um prato igualmente bom, mas diferente?
                                                                                        O Kit de Jojo Mayer
Na verdade, a norma de que estamos tratando aqui não tem realmente nenhuma consequência. Nada vai acontecer se seus toms não forem do menor para os maiores e da esquerda para a direita, ou se seu prato de condução ficar acima de seu chimbau. Ainda não existe uma “polícia da bateria”, que vai te procurar e te multar ou te espancar com um par de baquetas 5B. Realmente, a maneira como você monta sua bateria não influencia suas habilidades musicais, exceto no sentido de que se as peças são reorientadas por você, elas devem tornar mais fácil tocar o que e como você quiser. A capacidade de tocar bateria é algo que você possui, independentemente do tamanho ou número de coisas na sua frente, então não sinta qualquer obrigação de montar sua bateria de certa maneira, a menos que seja o que você realmente prefira.
                                                                            A combinação de Trilok Gurtu
Não estamos dizendo que você precisa reorganizar radicalmente o seu kit, mas não tenha medo de fazer isso. Você deve definir as coisas como quiser. Por exemplo, alguns bateristas gostam de colocar um splash à direita, perto do surdo. Não há nenhuma razão para colocá-lo nessa posição, além do fato de que é onde eles gostam. Se você colocar em cima do tom, ou ao lado esquerdo do seu chimbau, também está tudo bem. Não há nenhuma regra para colocá-lo em qualquer lugar. O mesmo vale se você quiser colocar uma caixa no lugar de um surdo - por que não? Chris Dave (Adele, Beyoncé, Winton Marsalis) usa essa configuração e parece gostar muito. De qualquer modo, uma razão para rearranjar sua bateria é que isso pode permitir a você obter diferentes combinações de sons e texturas fora do padrão, facilitado pela proximidade de objetos diferentes. A palavra chave aqui é “permitido”, então a única maneira de saber o que pode estar esperando por você é experimentar. Você não tem nada a perder!
                                                                          Chris Dave e a caixa do lado direito

Tradução e adaptação: Drum Channel Brasil

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